
Além de um espaço de avaliação de políticas, estratégias e ações voltadas ao combate ao racismo e à promoção da igualdade racial em todo o país, a 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) também impulsiona o empreendedorismo. Até o dia 19 de setembro, empreendedores autodeclarados negros, quilombolas e indígenas de diversas regiões do Brasil terão a oportunidade de expor seus produtos na Feira Nacional de Expositores.
Integrada à programação da 5ª Conapir, a Feira de Expositores tem como propósito promover a visibilidade e a valorização cultural, econômica e social de grupos historicamente marginalizados – afro-brasileiros, quilombolas, ciganos, indígenas, povos de terreiro e demais povos e comunidades tradicionais. Por meio de edital lançado pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR), foram selecionados 45 empreendedores para apresentar seus produtos durante todo o período da conferência.
“A ancestralidade é uma herança única que os produtos desses empreendedores carregam. Oferecer esse espaço é um ato de resistência diante da exclusão social e econômica contra a qual lutamos”, afirma a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco”.
Cláudia Cristinada Silva veio de São Paulo para apresentar suas bonecas e máscaras africanas produzidas em massa de biscuit na conferência. “Meus produtos exaltam a negritude. São pensados para representar pessoas afrodescendentes, para que se reconheçam na arte”, conta a empreendedora, que descobriu o talento artístico ainda na infância.
A inspiração para a empresa Art Abanã surgiu de um pedido inusitado: “Um rapaz me pediu para fazer uma máscara africana. No início achei loucura, mas, por incrível que pareça, sonhei que a produzia”. Ao pesquisar, Cláudia entendeu que se tratava de máscaras usadas em cerimônias e ritos de passagem em religiões de matriz africana. Desde então, seu interesse sobre temas acerca das heranças deixadas por povos africanos nunca diminuiu.
Para Leandro Silva, o empreender vai além da lógica de oferta e demanda: é sobre acolher os seus e construir uma rede de apoio entre afrodescendentes. À frente da África Lion, ele viu um sonho se tornar realidade ao apostar no talento de artesãos e costureiras de Salvador (BA). “A África Lion iniciou os trabalhos em 2022, quando passou a atuar no mercado de couro e tecidos africanos. Essa iniciativa gerou empregos para sete famílias. Deixou de ser apenas o sonho de um empreendedor para se tornar o sonho de gerações envolvidas nesse processo”, afirma.
“Estamos aqui e pertencemos a este lugar”. É essa a mensagem de Yasmin Pires, jovem indígena alagoana do povo Kariri Xocó e dona da Ynawana Moyra Grafismo. Aos 19 anos, ela vê sua participação na V Conapir como uma forma de reivindicar espaços que lhe foram historicamente negados. “Faço pintura corporal desde pequena; pinto meu povo e também pessoas não indígenas como forma de resistência. Mas precisei transformar o grafismo em sustento depois que me negaram oportunidades de trabalho ao descobrirem que moro em uma reserva indígena”, desabafa.
Yasmin hoje comemora suas conquistas e celebra sua participação em um evento tão significativo para a igualdade racial no Brasil. “Somos todos um só, a luta não precisa ser individual. Este evento não é importante apenas para quem veio articular ideias e elaborar proposições, mas também para nós, que viemos de lugares pouco conhecidos para compartilhar nossa ancestralidade”, conclui.
A Feira Nacional de Expositores se apresenta como um instrumento de empoderamento, fortalecendo o desenvolvimento econômico e a inclusão social de grupos historicamente discriminados. Para João Silva, nordestino que percorre o Brasil com o Coletivo Cordeliando, divulgando xilogravuras e literatura de cordel, o espaço é essencial: “É de fundamental importância contar com iniciativas que impulsionam a economia criativa, para que pessoas negras, quilombolas e indígenas possam divulgar seus trabalhos, sejam eles coletivos ou individuais”. O empreendedor do Piauí atua ainda ao lado de outros cordelistas e xilográfos, levando a literatura de cordel às escolas de sua região.
Já para Lidia Kalunga, mulher quilombola, do quilombo urbano Jardim Cascata Aparecida de Goiânia, que está à frente da marca Lidia Akalunga Roupas e Acessórios Afro, participar de uma conferência nacional que reúne cerca de duas mil pessoas é uma oportunidade única. “Me emociono ao ver tanta gente valorizando o trabalho de empreendedores negros, quilombolas e indígenas neste evento. Hoje, me sinto realizada ao receber clientes que levam quatro, cinco peças de roupa em meu estande”, comemora.
O espaço de exposição reflete a diversidade e a riqueza cultural do povo brasileiro, valorizando também as manifestações regionais. Observadores atentos, como Edineia Oliveira, membra da comitiva do Espírito Santo, percebem que a maioria dos expositores são mulheres que souberam aproveitar a oportunidade para conquistar autonomia financeira. “Fiquei maravilhada ao ver tantas mulheres apresentando seus produtos. A predominância feminina na Feira Nacional de Expositores dá relevância e brilho a este momento de discussão e fomento de políticas públicas”, comenta.
Para Gilvano da Silva, membro da comitiva do Piauí, incentivar o protagonismo de empresários negros, quilombolas e indígenas no empreendedorismo é um avanço importante na luta da população negra. “É fundamental apoiar os negócios de nosso povo, que historicamente têm enfrentado limitações de acesso ao mercado e às posições de destaque”, afirma.
5ª Conapir – A Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial é promovida pelo Ministério da Igualdade Racial, por meio de seu Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, e simboliza uma retomada histórica da participação da sociedade nas demandas por políticas públicas de igualdade racial.
Crédito: Agência Gov
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