
Por conta da mudança recente na coloração das águas do Lago Igapó 2, na região sul da cidade, cujo aspecto visual está em tom verde-escuro, a Prefeitura de Londrina e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) atuam conjuntamente em busca de respostas para essa condição atípica. Na tarde desta sexta-feira (12), ocorreu uma reunião com o secretário municipal do Ambiente (Sema), Gilmar Domingues, e professores especialistas da UTFPR para uma primeira avaliação técnica do estado das águas, após coletas de amostras feitas no local.
Os diálogos envolveram a análise dos dados levantados e houve a indicação de possíveis medidas aplicáveis que serão estudadas pelo Município, no sentido de atenuar a profusão das algas que já existem nesse ecossistema, mas se expandiram e contribuem para a alteração das características do Igapó. Pode, ainda, haver a presença de outros organismos e bactérias específicas que favoreçam as alterações.
Esse fenômeno pode ser decorrente de vários fatores agregados, incluindo o próprio processo biológico ao longo do tempo envolvendo clima e poluição, o atual período prolongado de seca de chuvas e as altas temperaturas, gerando a redução do volume de água, com maior incidência direta de luz solar e a ampliação de nutrientes que tornam a matéria orgânica mais proeminente. Outros fatores externos como ventos ou mesmo vazamentos clandestinos de esgoto também são considerados.
Ainda que não existam elementos científicos consistentes, a situação pode representar riscos à vida aquática existente neste complexo, incluindo peixes e outras espécies, o que acende o alerta da Prefeitura. A indicação inicial, antes de qualquer ação oficial do poder público, é para que as pessoas sejam cuidadosas e evitem utilizar o lago para tomar banho, praticar esportes, pescar ou realizar outras atividades que envolvam contato direto com a superfície de água.
Uma equipe de docentes da UTFPR, do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, realizou nos últimos dias uma nova coleta de água do Igapó para medir o Índice de Qualidade de Água (IQA). Ao contrário dos levantamentos de rotina, que costumam apontar estado regular, essa análise mais recente mostrou índices ruins que chamam a atenção, principalmente pelo aumento do nível de fosfato encontrado. A apuração do IQA envolve vistas sobre nove parâmetros diferentes, dentre os quais temperatura, pH, oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes, fósforo e nitrogênio.
Segundo os especialistas da UTFPR, o monitoramento já ocorre e continuará. A característica inicialmente apontada pode significar o começo do processo de eutrofização do Lago Igapó, que ocorre quando o conjunto de algas cresce e provoca a redução de oxigênio nas águas, intensificando o transporte de sedimentos. O grupo técnico levou em conta que as condições ambientais podem variar muito rapidamente e que há a possibilidade de o próprio corpo hídrico dissipar as substâncias indesejadas para trazer de volta o aspecto anterior do Lago Igapó.

No entanto, de forma preventiva, a Prefeitura estudará a adoção de intervenções que sejam viáveis, financeira e operacionalmente, para aumentar a presença de oxigênio e diminuir a incidência de fosfato no lago. O secretário municipal do Ambiente, Gilmar Domingues, informou que as ações poderão combinar remoções mecânicas de matérias, técnicas de aeração (inserção de oxigênio) e também de precipitação química.
Segundo o titular da Sema, a troca de ideias e atuação conjunta com a UTFPR é salutar e importante para trazer soluções iniciais e um acompanhamento efetivo da qualidade das águas do Igapó. “As informações trazidas pelos especialistas são valiosas, nos fornecem parâmetros e nortearão os próximos passos. Passaremos isso ao nosso corpo técnico da Sema e vamos atuar para tentar quebrar ou amenizar esse ciclo de saturação de sedimentos que vem acontecendo no Lago Igapó nos últimos dias. É necessário evitar riscos maiores por essa eutrofização, que pode oferecer perigo aos peixes e outras vidas que temos lá. Não está descartada a aeração mecânica, mas não pode ser um processo qualquer, dada a quantidade enorme de matéria concentrada e o risco de aumentá-la ainda mais com uma técnica mal operada”, adiantou.
Domingues acrescentou que a Sema também observará processos desenvolvidos por outros municípios que já vivenciaram problemas semelhantes. “Não temos ainda condições de mencionar quais alternativas serão praticadas, nem valores de intervenções ou formas de licitação, mas agiremos para que as soluções iniciais cabíveis ocorram o mais rápido possível”, frisou.

O professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UTFPR, Orlando Carvalho Júnior, afirmou que o índice de qualidade da água nos quatro lagos Igapó é monitorado regularmente. “As coletas de maio e junho apresentaram resultados normais, e agora, em setembro, detectamos visualmente essas algas indicando a eutrofização. O indicativo que quantificamos até o momento é que o fenômeno foi ocasionado por excesso de fosfato, que pode ter vindo de diferentes fontes, como o lançamento indevido de influentes ou o próprio desprendimento do fósforo no sedimento dos lagos. O cenário exige atenção, claro, mas não é caso de alarmismo, e o monitoramento terá sequência”, sugeriu.

Outro docente do mesmo curso da UTFPR, no departamento Acadêmico Ambiental, Rodrigo Torres, ressaltou que a densidade deste organismo expandido foi o que mais chamou atenção. “Trata-se de um organismo naturalmente presente nos corpos d’água, é parte dessa comunidade biológica. Esse comitê que se reuniu hoje vai avaliar, na sequência, testes de toxicidade deste organismo para saber se há evidências que sugiram um comportamento tóxico nocivo ou não. Não é algo alarmante, mas é importante que a sociedade tenha conhecimento. Tem pessoas que usam o lago para nadar, andar de jet ski, praticar caiaque ou pescar, então indicamos, nesse primeiro momento, que todos sejam mais precavidos até que a Sema tenha uma sinalização efetiva na conduta de controle da situação”, comentou.
Já o professor Jorge Martins, da UTFPR, que atua no programa de pós-graduação do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, enfatizou que a integração entre diferentes áreas de estudo contribuem para um diagnóstico mais amplo.

“Professores e pesquisadores de áreas distintas compartilham seus conhecimentos e podemos ir complementando e afunilando os trabalhos. Já atuamos no Lago Igapó e outros corpos hídricos ao longo dos anos, trazendo levantamentos científicos variados. No caso das águas do Igapó, podemos falar de parâmetros. Por exemplo, em 2021 tivemos uma estação de estiagem parecida com a de agora, mas a temperatura hoje está bem mais alta do que naquele período, com diferença de três graus Celsius. Na discussão científica perguntamos: será que esses três graus explicariam? Por outro lado, quando analisamos o fósforo como parâmetro, a concentração era alta em 2021, assim como temos hoje e os nutrientes presentes são os mesmos. Podemos ter mais radiação difusa chegando, entre outros fatores, que podemos integrar para entender o que ocasionou o fenômeno atual. São vários exercícios possíveis”, explicou.
Martins disse que o monitoramento é parte de um trabalho de prevenção que pode ser mantido pela Prefeitura. Ele ainda citou que, na reunião, foi colocada a intenção de existir uma plataforma integrada capaz de aproveitar os conteúdos desses assuntos à população. “Isso possibilitaria entender melhor eventos como o do Lago Igapó, fornecendo informações importantes e parâmetros para consulta pública de forma ordenada, para que as pessoas saibam o que já aconteceu antes, quais as condicionantes e se existe probabilidade de ocorrer novamente”, concluiu o professor.
Crédito: Prefeitura de Londrina
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