
Em conversa com jornalistas ao final de sua agenda na ONU, presidente reafirma que democracia e soberania brasileiras não estão na mesa e que restabelecer diálogo atende vontade dos dois países
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista coletiva ao final de sua agenda oficial na ONU, nesta quarta-feira (24/9). O possível encontro oficial com o presidente estadunidense Donald Trump foi um dos principais temas colocados pelos jornalistas.
Lula disse que está, como sempre esteve, disposto a conversar com Trump. Que restabelecer uma relação diplomática e comercial com os Estados Unidos é algo positivo e que corresponde aos anseios da população brasileira e dos Estados Unidos. Lula disse que adiantou a Trump que a conversa entre eles pode e deve ser sem limites, exceto quanto à democracia e à soberania do Brasil.
“Quando tiver eleição nos Estados Unidos, eu não me meto. E quando tiver eleição no Brasil, ele não se mete”, disse Lula, fazendo referência indireta ao processo eleitoral brasileiro de 2026.
Para Lula, o diálogo que vai ser aberto com Trump deve se pautar pela lógica do “ganha-ganha”.
“No caso do Brasil, a gente não tem que perder, a gente tem que ganhar e também os outros têm que ganhar, porque tem que ser um acordo de ganha-ganha. Essa é a minha disposição e eu espero que seja a disposição dos Estados Unidos também, porque será bom, será bom para a nossa economia, para a nossa indústria, para o nosso comércio, para a nossa agricultura e para a relação das duas democracias mais importantes da América”, afirmou.
Apesar da insistência dos jornalistas, Lula não fez previsão de quando será o diálogo. Quanto ao formato, se presencial ou por videoconferência, o presidente afirmou que, assim como a data da conversa, o formato também será decidido pelas equipes dele e de Trump. Lula, no entanto, disse não se importar se o encontro for tête-à-tête. “Não trataremos de segredos de Estado, por mim pode ser público”, garantiu.
“Química”
O presidente afirmou que foi apanhado de surpresa pelo encontro com Trump nos bastidores, ao final do discurso que fez na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, na última terça-feira. Bem humorado, não fugiu ao tom de provocação quando questionado sobre a “química” que teria surgido entre eles, conforme definiu o próprio Trump, quando discursou, depois do brasileiro, na tribuna da ONU.
“Eu fui surpreendido, porque eu já estive ali outras vezes e não encontrei sempre com o presidente [dos Estados Unidos]. E era normal não encontrar com o presidente. Eu já estava saindo, ia pegar as minhas papeletas e ir embora quando o Trump veio para o meu lado, com uma cara muito simpática, muito agradável, sabe? E eu acho que pintou uma química mesmo, eu acho”, disse. Após a resposta de Lula, os jornalistas riram.
Questionado ainda se colocará sobre a mesa de negociações a exploração de terras raras e metais críticos, Lula disse que a negociação deve ser na base do “ganha-ganha”, e que o Brasil não pode repetir erros do passado quanto a suas riquezas minerais, tornando-se mero exportador. Lula ponderou, no entanto, que não deseja o Brasil “isolado do mundo”.
Não é só exportar
“Nós discutimos com o mundo inteiro as nossas terras raras, nós queremos discutir com o mundo inteiro os nossos minerais críticos, nós queremos que empresas que quiserem explorar vão para o Brasil explorar. O que a gente não quer é permitir que aconteça como aconteceu até agora com os minérios: a gente é só exportador, só exportador, só exportador e não faz o processo de industrialização dentro do Brasil”, afirmou Lula.
Segundo o presidente, a criação do Conselho de Política Mineral, ligado à Presidência da República, vai dar garantia técnica ao Brasil para “assumir a responsabilidade pela nossa riqueza”. Segundo Lula, essa responsabilidade inclui conhecer profundamente as riquezas que o País tem. Lula pontuou que “o Brasil ainda não conhece 70% do seu território”.
A nobre arte da guerra (à fome)
Antes de dar início às perguntas dos jornalistas, Lula fez breve exposição, em que disse estar feliz com os resultados de sua agenda na ONU e otimista quanto à possibilidade de que mudanças na geopolítica internacional tenham início. O presidente voltou a dizer que os países deveriam dar prioridade à guerra contra a fome e a pobreza.
Neste ponto, aplicou uma máxima que usa com frequência quando fala ao público brasileiro: colocar os pobres no Orçamento é solução.
“Se todos os governantes do mundo colocarem o pobre dentro do orçamento, a gente acaba com a pobreza muito rapidamente, porque além de 670 milhões de pessoas passando fome, segundo a FAO, nós ainda temos 2 bilhões e 300 milhões de seres humanos com insuficiência alimentar. Não é crível uma coisa dessas, num mundo que produz alimento suficiente para todo mundo”, disse.
“Quando você vê as pessoas gastarem trilhões em armas, trilhões em guerras, a gente não (8:12) tem explicação do comportamento dos humanos em tratar a própria espécie humana”, disse ainda.
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Crédito: Agência Gov
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