sexta-feira, outubro 17

Estatais apontam direções inexploradas pelo setor privado para a transição energética

A economia global, em especial a dos países em desenvolvimento, enfrenta o desafio de compatibilizar aumento da oferta de energia, fundamental para fazer frente ao esperado crescimento do PIB mundial, com transição energética justa e inclusiva. Nesse contexto, o seminário Encontro Global sobre Empresas Estatais e Ação Climática jogou luz sobre um tema relevante: a importância das estatais no processo de transformação do modelo de desenvolvimento rumo à produção de baixo carbono a partir da transição energética.

Isso, tanto pela capacidade de investimento de vulto das empresas públicas, quanto pela defesa dos interesses nacionais e da posição privilegiada no planejamento de longo prazo. O encontro foi organizado pela secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (Sest/MGI) em parceria com a Petrobras e apoio da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e da Open Society Foundations (OSF).

“As estatais apontam direções muitas vezes ainda não exploradas pelo setor privado, através de casos reais aplicados que demonstram a existência do valor embutido. Com isso, começa a transformação”, diz o presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Tiago Prado, moderador do painel “Transição energética justa – a janela de oportunidade é agora”.

No centro do debate a capacidade das estatais em gerar valor agregado, empregos de qualidade e maior autonomia tecnológica, aproveitando o avanço das energias renováveis, da eletrificação e de tecnologias limpas para inserir o Brasil nas cadeias globais de valor sustentável. Segundo ele, o aumento previsto do consumo a partir da inteligência artificial e da expansão de data centers evidenciou a urgência da transição energética em um cenário de eventos climáticas extremos. Só os projetos cadastrados de data centers para os próximos cinco a sete anos demandarão mais de 20 gigawatts.

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Plano Nacional de Energia 2055

A palavra-chave do Plano Nacional de Energia 2055, em fase de conclusão pela EPE, é diversificação da matriz, incluindo participação importante da hidroeletricidade, dos biocombustíveis, dos combustíveis sintéticos, do hidrogênio (das mais diferentes cores) e da manutenção do papel do setor de óleo e gás, gerando valor e impulsionado pela inovação.

“No ano passado, os investimentos em inovação tecnológica em energia atingiram recorde da série histórica de R$ 7,6 bilhões em 2024, valor superior a 30% do aplicado em 2023”, diz Prado.

O seminário, que ocorreu no Centro de Pesquisas da Petrobras nesta quarta-feira (15/10) trouxe para o debate às vésperas da COP 30, em Belém (PA), a experiência de estatais como Petrobras, Itaipu Binacional e da asiática Petronas, da Malásia, na transição para uma economia de baixo carbono. Coube ao coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Barcelar, abordar a relevância da coordenação do Estado na transição energética justa, soberana e popular.

“A transição energética precisa levar em consideração que os trabalhadores do setor de óleo e gás têm bons salários, direitos garantidos que precisam ser preservados com a mudança. Hoje, os grandes parques solar e eólica geram empregos em menor quantidade, com baixos salários. O diálogo deve se ampliar também para esse tema. Precisamos falar sobre requalificação profissional”, diz.

Eletrificação e biocombustíveis

A Petrobras, segundo William Nozaki, gerente executivo da Gestão Integrada de Transição Energética da estatal, vislumbra oportunidades no avanço rumo a uma diversificação rentável a fim de que possa manter sua presença, hoje de 31%, na oferta primária de energia do País.

A seu ver, os fósseis continuarão fundamentais para outros tipos de indústria, como a petroquímica, mas o aumento da demanda por energia no setor de transportes será respondido pela eletrificação mais acelerada em veículos leves. Já o consumo em transportes pesados, como o da aviação e da navegação, será suprido pelos biocombustíveis.

A eletrificação deve se intensificar a partir de 2035. A empresa destina 15% de seu Capex para iniciativas de transição energética, em projetos de geração eólica off-shore, energia solar, hidrogênio, além de se preparar para oferta de bioprodutos para terra, mar e ar. Outra frente no radar é a de parcerias para retornar ao mercado de etanol e passar a atuar no de biometano.

Nozaki enfatiza a importância de um diagnóstico correto para que essa janela de oportunidade seja aproveitada. Ele observa que as emissões de gases de efeito estufa estão, no Brasil, país dono de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, mais concentradas no uso e ocupação do solo e nas atividades agropecuárias do que no setor de energia.

No mundo, ao contrário, as emissões de energia respondem por 68% do total. Outra vantagem que deve ser levada em conta é que a pegada de carbono do conjunto de operações da Petrobras é menor que a de outros países. Isso, tanto pelas características intrínsecas do óleo do pré-sal, quanto por tecnologias utilizadas pela estatal que resultam em uma média de 10 quilos de CO2 por barril em suas operações. “Em outras indústrias esse número triplica”, diz.

A integração energética na América Latina foi um dos temas destacados por Enio Verri, diretor-geral da Itaipu Binacional, usina que reponde por 9% da energia demanda no Brasil, mas já foi de 50%.

“Parece que perdemos importância, mas aumentamos nossa importância. Hoje Itaipu é a bateria do Brasil. A partir das 16 horas não tem energia solar. Um pouco mais tarde não tem eólica. Quem garante energia é a hidro. Itaipu passa ter papel de backup do sistema elétrico brasileiro atualmente”, diz Verri. Outro aspecto ressaltado foi o de tarifas. A energia produzida por Itaipu está em R$ 232 o Kw/h, enquanto o preço médio está em R$ 340 o Kw/h.

“Somos uma âncora que joga para baixo o preço da energia”, diz Verri, citando iniciativas da empresa com novas fontes de energia, como biogás, petróleo sintético para aviação e hidrogênio verde. A transição energética para nós está ligada à inovação, pesquisa e desenvolvimento”, diz, citando investimentos de R$ 5 bilhões em atualização tecnológica em um período de 10 anos.

A empresa apresentará na COP 30 o primeiro barco movido a hidrogênio verde, com autonomia de 4 horas. “É o início de um processo muito mais amplo que estamos pesquisando”, diz.

A Petronas, estatal de petróleo e gás da Malásia presente em mais de 100 países, tem investido em tecnologias sustentáveis e na transição para fontes de energia mais limpas. Um dos exemplos citados por Suhana Sidik, country chair da Petronas, foi o do aumento do uso do gás natural como combustível de transição, utilizado como substituto do carvão em países asiáticos, reduzindo as emissões de CO2 na geração de energia elétrica. A empresa também investe em tecnologia para captura e armazenamento de carbono (CCS, da sigla em inglês). “Aqui procuramos parcerias. Estou animada com a visita do presidente Lula à Malásia daqui a uma semana”, disse.

Crédito: Agência Gov

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