sexta-feira, outubro 3

Exposição do Instituto Tomie Otake reabre Parque Zoobotânico do Museu Goeldi

Ministra Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, participa da vernissage de “Um rio não existe sozinho”, no Museu Goeldi. Obras ficarão em cartaz até dezembro, celebrando união entre arte e ciência

Depois de fazer morada nos muros do Parque Zoobotânico e do Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, agora a arte brota dentro da instituição. E se espalha entre a fauna e a flora preservadas no parque, que foi reaberta para visitação nesta sexta-feira (03/10). Promovida pelo Instituto Tomie Ohtake, em parceria com o Museu Goeldi, a exposição Um rio não existe sozinho reúne obras de artistas plásticos de várias regiões do Brasil e ficará em cartaz até 30 de dezembro, abarcando o período da COP 30.

Nesta sexta, a programação continua com bate-papos com os artistas em mesas-redondas, que irão ocorrer pela manhã e à tarde, no auditório Eduardo Galvão do Parque Zoobotânico.

A abertura da exposição para convidados ocorreu na manhã desta quinta-feira (2/10), com a participação da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos; do diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior; da diretora do Instituto Tomie Ohtake, Gabriela Moulin; da superintendente regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Cristina Nunes; e das curadoras da exposição, a cearense Sabrina Fontenele e a amapaense Vânia Leal. O evento começou com um café da manhã, seguido de uma trilha guiada pela equipe de educadores locais, treinada pelo Instituto, nas últimas semanas.  

Patrimônio do saber

Em Belém, também para acompanhar a agenda do presidente Lula às vésperas da COP 30, a ministra Luciana Santos não escondeu a alegria ao ver os muros do Parque Zoobotânico e os espaços de contemplação dentro do parque enriquecidos pela arte que promete contribuir com as reflexões ambientais neste momento de preocupações com as crises climáticas.

“Quero dizer da minha alegria de poder voltar mais uma vez a essa importante instituição do nosso país. É o patrimônio do saber, a joia da coroa do nosso Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia”, afirmou a ministra, ao falar sobre o potencial da junção da arte com a ciência como caminho para popularizar os saberes.

“A arte e a ciência juntas nos ajudam a enxergar as diversas dimensões que a vida tem, nos ajudam a popularizar, a difundir o saber científico. Temos a necessidade de virar a página do negacionismo no nosso país, o negacionismo tão perverso que vivemos recentemente. E a popularização da ciência, portanto, tem poder relevante nesse embate tão necessário que a gente precisa enfrentar”, destacou Luciana Santos, que comentou sobre a surpresa que experimentou quando viu os muros do Parque Zoobotânico pintados em parceria com o Museu de Arte Urbana de Belém (Maub), inaugurado no último domingo, 28 de setembro.

“Quando cheguei e vi o muro, eu disse: ‘Que maravilha!’ Isso dá pertencimento, dá orgulho às pessoas. Além de ser a Casa da Ciência, o Museu Goeldi vai ser a casa da cultura. É um muro que agora todo mundo vai querer tirar uma foto, filmar, para ficar do lado dessa beleza que é a capacidade artística do nosso povo e da nossa gente”, falou a ministra Luciana Santos, se referindo à Casa da Ciência, espaço que está sendo implementado dentro de um dos prédios históricos do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi para receber eventos do MCTI durante a COP 30, em novembro.


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O artista Gustavo Caboco fala da sua obra para convidados no Museu Goeldi

Comunicação com empatia

Para o diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, a comunicação baseada na empatia é outra forma eficaz de realizar a popularização da ciência. “A empatia através da arte, sendo ela o veículo para transmitir os resultados das nossas pesquisas, aquilo que a instituição vem produzindo. Com essa comunicação empática, a gente toca mais fundo, a gente consegue chegar a mais pessoas”, explicou ele.

O diretor agradeceu a presença de todas as autoridades e enfatizou a importância dos financiamentos viabilizados pelo MCTI que permitiram as obras que serão executadas em 2026 no Parque Zoobotânico do Museu, por meio do Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Nilson Gabas Júnior mencionou ainda o potencial da união entre arte e ciência como forma de combater a desinformação.

Quando a gente faz comunicação com embasamento em dados científicos, não em fake news, não no negacionismo, a gente consegue perceber a importância estratégica de ter a ciência e a tecnologia no desenvolvimento das pessoas. Não apenas o desenvolvimento econômico. O que nós precisamos é desenvolvimento humano”, disse o diretor do Museu Goeldi.

Gabas Júnior ressaltou a importância também da parceria com o Iphan, que viabilizou a pintura dos muros do prédio tombado do Parque. “O entendimento que a gente tem com o Iphan e o entendimento que o Iphan tem das nossas iniciativas, têm sido singular”.

Pororoca de acontecimentos

A superintendente regional do Iphan, Cristina Nunes, reconheceu o momento propício às parcerias e às inovações que a COP 30 proporciona para as instituições que atuam no Norte do país. Ela falou sobre o tombamento do Museu Goeldi e a relevância que o espaço tem para a ciência brasileira. 

“Ele é instrumento tombado desde a década de 1990, no seu âmbito cultural, no seu âmbito de meio ambiente. A gente tem noção exata de que cada folhinha que cai, de que cada cutiazinha que corre, tem uma importância fundamental para cada um de nós e para que esse espaço aconteça”, explicou ela, mencionando a oportunidade para unir forças no contexto da COP 30.

Cristina Nunes fez questão de dizer que ficou admirada com a quantidade de gente que esteve, no domingo (28/09), festejando a arte nos muros do Parque. “Gente, estava linda essa rua! Era um rio de gente, um mar de gente. Quando a gente fala em unir as pessoas para uma reconstrução, é isso”, disse, lembrando que não foi fácil viabilizar as pinturas nos muros tombados.

“Nesse momento, eu realmente só quero brindar com vocês toda a alegria do que está acontecendo. Vou voltar a falar a palavra pororoca, porque é uma pororoca de acontecimentos maravilhosos para o nosso Estado. E precisamos aproveitar. Precisamos colocar as nossas pranchas na onda da pororoca e sair com ela. Vamos juntas, vamos juntos, vamos fazer acontecer. Conta com a gente, Gabas, sempre”, afirmou.

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Obras estão espalhadas pelo parque; o artista Rafael Segatto comenta criação

“Um rio não existe sozinho”

A diretora do Instituto Tomie Ohtake, Gabriela Moulin, também valorizou as alianças institucionais como forma de realizar projetos importantes para a vida das pessoas. “Temos certeza de que as alianças institucionais, profissionais, são o caminho para a construção de programas e projetos mais fortes e vivos, bem como que as pesquisas científicas, artísticas e sociais devem estar em diálogo. Ela lembrou que a exposição foi construída ao longo de dois anos, em diálogo com o Museu Goeldi. “O projeto ‘Um rio não existe sozinho’ vem sendo concebido há dois anos, entre Belém e São Paulo, na escuta e no diálogo sobre a urgência climática e sobre o papel da arte, da cultura e das poéticas como lugares únicos e incontornáveis para perceber, sentir e traduzir as complexidades do mundo, ao mesmo tempo que imaginamos outras formas de construí-lo e habitá-lo”, disse Gabriela.

Curadora da exposição, Sabrina Fontenele falou sobre o diferencial para o Instituto Tomie Ohtake expor as obras selecionadas no Museu Goeldi.

Não só por ser um momento da COP, que demonstra como a arte pode ser uma ferramenta para discutir narrativas, para sensibilizar e para apontar novos caminhos, mas também porque a gente entende que o Museu Goeldi é uma instituição de pesquisa, de muito cuidado com essa fauna e flora amazônica há mais de um século”, disse Sabrina.

Ao seu lado, a curadora Vânia Leal falou sobre o potencial educativo da arte. “Atravessar corpos que pensam, corpos que agem, atravessar essa perspectiva crítica, a arte é crítica e estar aqui no Museu, num contexto de COP, eu digo que é uma comunhão, porque os trabalhos que aqui estão, vão para muito mais além de só uma instalação de arte”, frisou.

Passeio pelas emoções

A coordenadora de contratos e convênios da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisa (Fapespa), Cássia Santos, participou de uma das trilhas conduzidas pela equipe de educadores do Instituto Tomie Ohtake pelas obras. Paraense que coleciona memórias afetivas da infância entre as árvores e os bichos do Museu, ela falou com emoção da experiência que acabou de viver em contato com a arte.

“Essa exposição me surpreendeu no sentido de que foi buscar memórias afetivas lá da Cássia pequenininha, que vinha ao museu, que sempre buscou, olhou com esse olhar de curiosidade, de respeito à natureza”, disse ela. “O que o museu faz enche de orgulho aquela criancinha que frequentava aqui com aquele olhar curioso. Então, foi uma viagem no tempo para mim”.

A diretora-geral do Instituto Letras que Flutuam, Fernanda Martins, falou da sinergia que percebeu entre a arte e a natureza nos caminhos conhecidos do Parque Zoobotânico. “O passeio foi muito interessante, porque a gente tem uma história com o parque. Quando a gente vê essa interlocução entre a arte e a natureza, com uma narrativa que reforça a história do parque, é uma uma sinergia muito interessante”, explicou, deixando um recado para as pessoas que virão participar da COP 30 em Belém.

“As pessoas que vierem para a COP têm obrigação de passar no Parque, não tem como escapar disso. Essa experiência, que já é grandiosa, se torna muito mais grandiosa, cria camadas novas de interpretação, de vivência, que torna o passeio mais imprescindível do que já era”, atesta ela.

Para o professor de cinema e diretor da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará, Luiz Adriano Daminello, a busca pelo convívio pacífico entre a arte e a natureza expressa o momento atual. “Essa relação da natureza com um processo de arte é super atual, é o que está sendo discutido. É o trabalho humano que não destrói convivendo com a natureza. Isso é interessante.”

Já a artista plástica indígena Rita Hunikuin, natural do Acre, diz que a diversidade que as obras expressam foi o que mais chamou sua atenção. “De alguma forma, nós nos comunicamos através da arte. Não só os artistas, mas diversas culturas, inclusive a indígena. Então, para mim foi mágico poder ver essa diversidade nas de vários artistas diferentes, cada um com a sua linguagem própria.”

Texto: Carla Serqueira
Revisão: Andréa Batista
Publicado por Paulo Donizetti de Souza

Crédito: Agência Gov

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