sexta-feira, novembro 7

Há 50 anos, crise mundial do petróleo fez Brasil criar carro a álcool — Senado Notícias

Quando o Proálcool foi lançado, uma das apostas era que o combustível fosse produzido não apenas da cana-de-açúcar, mas também da mandioca. Essa matéria-prima aparece, inclusive, no decreto de criação do programa.

— O Brasil tem uma tradição na obtenção do álcool a partir da cana-de-açúcar e agora tenta obtê-lo através da mandioca. Alguns especialistas admitem que, por hectare, teríamos 2,1 mil litros através da mandioca e 3,1 mil litros através da cana — observou o senador Itamar Franco (MDB-MG), apontando o potencial do tubérculo.

— Importante para o Brasil e para a Bahia, o meu estado, será o rápido incremento da implantação de usinas para a produção do álcool extraído da mandioca, de modo a gradativamente ganharmos fontes de energia que possam até nos libertar da importação de petróleo. Hoje isso não é uma utopia, mas uma palpável realidade conquistada pela tecnologia — comemorou o senador Luís Viana (Arena-BA).

— A ênfase maior está sendo dada à produção de álcool extraído da cana, quando o tratamento preferencial deveria ser destinado à mandioca. O álcool da cana pode prejudicar a produção de açúcar, que é uma excelente fonte de divisas para o país — opinou o senador João Calmon (Arena-ES).

— Tivemos a notícia, que nos desagradou, de que, ao se dizer que a mandioca é boa para álcool, isso ocasionou um aumento no preço da mandioca, que é produto de subsistência das regiões pobres do país — criticou Bautista Vidal, o secretário do Ministério da Indústria e do Comércio, na audiência no Senado. — Esse entusiasmo de que a mandioca vai servir para álcool precisa ser qualificado. Não é a plantação de fundo de quintal, que abastece as populações pobres, que servirá como matéria-prima. São necessários empreendimentos de porte.

— Perdoem-me dizer isto, mas sou também produtor de álcool e desde muito moço sei que se fabrica álcool tanto da cana-de-açúcar quanto da batata-doce, da mandioca, do milho, do sorgo. Então eu fico assombrado com os jornais a noticiar sobre o álcool dizendo: é de mandioca, é de cana-de-açúcar etc. Parece até uma torcida entre Flamengo e Fluminense. E o problema essencial, que é produzir álcool, não chega nunca — criticou Teotônio Vilela.

Outra opção cogitada foi o babaçu, fruto da palmeira de mesmo nome, comum nas regiões Norte e Nordeste. Segundo um relatório do governo apresentado no Senado em 1980, das 303 usinas aprovadas desde 1976 para receber dinheiro do Proálcool, somente 12 usariam a mandioca e uma única, o babaçu — a grande maioria processaria a cana-de-açúcar.

No fim das contas, os planos de que os postos de combustível oferecessem álcool de mandioca e babaçu foram frustrados. Concluiu-se que as duas alternativas eram comercialmente inviáveis, já que — ao contrário da cana-de-açúcar — não podiam ser cultivadas em larga escala nem dispunham de uma estrutura de produção profissional e consolidada.

Crédito: Agência Senado

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