quarta-feira, outubro 15

Ministra dos Povos Indígenas ressalta pioneirismo do Círculo dos Povos durante Pré-COP

Ao lado de autoridades brasileiras e dos demais países membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), ministra Sonia Guajajara fez um chamado para compromissos que deixem legados à sociedade

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, chamou atenção nesta segunda-feira (13/10) para a crise de multilateralismo global e defendeu a reafirmação de consensos entre as diferentes regiões do Globo, como forma de dar respostas efetivas aos desafios da emergência climática. Desse modo, destacou o Círculo dos Povos como uma inovação importante da presidência da conferência brasileira, que pode apontar caminhos para soluções efetivas à crise vivenciada atualmente.

Sonia participou da Pré-COP, a Reunião Ministerial Preparatória para a COP 30, que contou com a presença de líderes globais em Brasília. Durante a cerimônia de abertura, ao lado dos demais líderes dos Círculos vinculados à Presidência da COP 30, a ministra discursou sobre os legados aguardados na COP de Belém e o pioneirismo do Círculo dos Povos.

“Não será possível qualquer transição energética se ela reproduzir o que outros processos já fizeram: em nome do suposto progresso e do avanço tecnológico, deixar rastros de violações, violências e desigualdades. E povos indígenas e comunidades locais não são somente aqueles dentre os mais impactados pelas mudanças climáticas”, disse a ministra.

Nós também somos parte das respostas. Também por isso o Círculo dos Povos é uma inovação importante. E, também por isto, precisamos ir além nesta COP 30”, reforçou Sonia Guajajara.

O evento, realizado até esta terça (14) no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), antecede a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a COP 30, a ser realizada em Belém entre 10 e 21 de novembro.

O encontro reúne ministros e negociadores do clima, com o objetivo de facilitar consensos sobre temas chave para a conferência. Cerca de 65 delegações de países membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) foram convidadas.

Sobre o Círculo dos Povos

O Círculo dos Povos, que é presidido pela ministra Sonia Guajajara, foi criado com o objetivo de aumentar a representação de povos indígenas, povos e comunidades tradicionais e afrodescendentes junto à Presidência da COP 30. O Círculo é formado pela Comissão Internacional Indígena, e pela Comissão Internacional de Comunidades Tradicionais, Afrodescendentes e Agricultura Familiar, que busca fortalecer o engajamento e a participação das comunidades locais nos debates internacionais sobre a mudança do clima.

O Círculo é uma instância de diálogo direto desses grupos na presidência da COP do Brasil, um espaço de incidência e participação efetiva, onde os representantes defenderão suas pautas prioritárias, visando garantir que os conhecimentos tradicionais sejam respeitados e fortalecidos na conferência.

“No Círculo, criamos formas de diálogo, de contextualizar sobre os preparativos para Belém e de ouvir e encaminhar as principais demandas. Desde Paris, com a constituição da Plataforma de Povos Indígenas e Comunidades Locais, a UNFCCC busca formas de aumentar a nossa participação, além de aumentar o protagonismo e a participação de povos indígenas e de comunidades locais”, reforçou Sonia Guajajara.

De acordo com a ministra, o Círculo dos Povos terá sua própria atuação, sem entrar nos espaços e nas atribuições das instâncias representativas desses grupos, já constituídas pela UNFCCC no espaço da conferência, como é o caso do Grupo de Trabalho Facilitador (FWG) da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas (LCIPP) e do Caucus indígena.

Legados da COP de Belém

A ministra reforçou a necessidade de entregas concretas que colaborem para criar uma confiança global entre as sociedades, refutando a onda de ceticismo e negacionismo climático ainda resistente nos tempos atuais. Em seu discurso, diante dos ministros dos países membros da UNFCCC e outras lideranças internacionais, a ministra fez um chamado com quatro legados principais esperados para a conferência:

• Financiamento climático: a ministra defendeu a superação das estatísticas de que apenas 1% dos recursos financeiros alcançam os territórios indígenas e comunidades locais, que são detentores das melhores práticas e projetos de combate ao desmatamento;

• Territórios indígenas e de comunidades locais nas resoluções formais da COP: Guajajara também reforçou a importância de que essa edição da conferência traga resoluções que reconheçam os territórios como sumidouros de carbono e, levando isso em conta, que as políticas climáticas contemplem a sua proteção;

• Conhecimento tradicional: também defendeu a incorporação da realidade e conhecimentos de povos indígenas e comunidades locais nos indicadores de adaptação climática;

• Defensores ambientais: além disso, ela também convidou os países membros a reconhecerem a importância dos defensores ambientais nos diálogos de transição justa, incorporando conceitos que fortaleçam direitos, tais como os do consentimento livre, prévio e informado e o do racismo ambiental, para se alcançar uma transição que seja realmente justa.

Maior e melhor participação indígena da história

Sonia Guajajara lembrou, ainda, que a COP de Belém terá a maior e melhor participação indígena da história das conferências do clima. Para isso, o Ministério dos Povos Indígenas criou um espaço que será alocado na Universidade Federal do Pará (UFPA). Além de alojamento, o espaço contará também com atividades culturais, políticas e espirituais durante o período da COP 30. São esperados 3 mil indígenas de todo Brasil e do mundo na Aldeia COP.

A delegação brasileira contará com a maior participação indígena da história, com 360 representantes de todas as regiões do país credenciados para a Zona Azul da conferência. A indicação dos representantes foi realizada pelo movimento indígena durante a realização do Ciclo COParente, iniciativa do MPI que contou com 15 encontros em todos os biomas do país, para alinhar os discursos indígenas, informar e mobilizar o movimento como um todo para incidir na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

Crédito: Agência Gov

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