terça-feira, outubro 14

Parceria levará atendimento psicológico a filhos de vítimas de violência doméstica

Na manhã desta terça-feira (14), foi realizada solenidade de assinatura do Termo de Cooperação Técnica entre a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SMPM), o 30º Batalhão de Polícia Militar do Paraná, e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), campus Londrina, para execução do projeto “Cuidar para Transformar”. A iniciativa vai proporcionar atendimento psicológico para crianças e adolescentes inseridos no contexto de violência doméstica e familiar das mulheres em atendimento no Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CAM).

O projeto surge da demanda observada pela Patrulha Maria da Penha do 30º Batalhão de Polícia Militar de Londrina durante visitas de acompanhamento a mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Verificou-se, a partir do relato das mulheres, que seus filhos também são expostos a situações de violência em seus lares, de forma direta e indireta, gerando impactos emocionais e comportamentais. Apesar desta demanda, Londrina ainda não dispunha de serviços estruturados voltados especificamente ao atendimento psicológico de crianças e adolescentes, filhos de mulheres vítimas de violência, sendo esta a maior preocupação da vítima, que é mãe, tendo em vista o impacto causado pela violência doméstica na vida dos menores.

Foto: Calebe Guedes/PML

De acordo com a justificativa do projeto, as crianças e adolescentes que convivem com a realidade da violência, mesmo que não sejam vítimas diretas, têm o seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo prejudicado. A exposição constante pode gerar transtornos de ansiedade, depressão, dificuldades escolares e problemas de socialização.

Nesse sentido, o “Cuidar para Transformar” propõe a oferta de atendimentos psicológicos a crianças e adolescentes com idade entre 4 e 17 anos. As ações são realizadas a partir dos encaminhamentos realizados pela Patrulha Maria da Penha, em formato individual e/ou em pequenos grupos, com atividades lúdicas e de escuta qualificada, desenvolvidos por estudantes do último ano de graduação do curso de Psicologia da PUC Londrina, mediante agendamentos prévios.

Os atendimentos ocorrerão em uma sala disponibilizada pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, no CAM, localizado na Avenida Santos Dumont, 408, bairro Boa Vista. A escolha do CAM busca conciliar os atendimentos das crianças com aqueles oferecidos às suas mães, de modo a facilitar o atendimento às famílias, reduzindo o tempo, o custo e as dificuldades de deslocamento entre diferentes endereços.

Os atendimentos das crianças e adolescentes serão realizados no CAM somente durante o período em que a mulher estiver em atendimento e acompanhamento por este serviço. Quando ocorrer o seu desligamento, as crianças serão referenciadas no Núcleo de Práticas em Psicologia da PUC-PR Londrina, que fica na Avenida Jockei Club, 485, Hípica.

A secretária municipal de Política para as Mulheres, Marisol Chiesa, destacou a importância do projeto. “Hoje é um momento muito importante e especial, porque estamos falando de um projeto que vai atender a família como um todo. A criança que vivencia situações de violência dentro de casa absorve experiências que refletem em seus comportamentos e sentimentos. Quando falamos em violência doméstica e em cuidar da mulher, precisamos lembrar que, para ela, o mais importante são os filhos. Por isso, cuidar dessa criança é também cuidar dessa mulher e é parte essencial do processo de transformação e reconstrução da vida destas pessoas”, apontou.

Foto: Calebe Guedes/PML

A secretária destacou ainda que o projeto segue as diretrizes estabelecidas na Lei Municipal nº 13.262/2021, que institui a Política Municipal de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes. A legislação normatiza e organiza o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, fortalecendo o trabalho em rede entre a política para as mulheres e a política da criança e do adolescente.

A diretora da PUC-PR, campus Londrina, Nadina Moreno, afirmou que hoje é um momento histórico, porque normalmente as políticas acolhem a vítima, mas esquecem dos filhos destas pessoas que são mais vulneráveis ainda. “Eu espero que o projeto se transforme em programa permanente de apoio aos filhos destas vítimas, para que possamos atender muitas famílias”, enfatizou.

Dados – De acordo com dados da Patrulha Maria da Penha do 30º Batalhão de Polícia Militar (BPM), em 2025, foram atendidas 251 mulheres na área de abrangência da unidade, todas encaminhadas ao CAM para acompanhamento e busca ativa. Dentre elas, 81 foram classificadas como casos prioritários, conforme avaliação de risco. Em 30% dessas situações, foi identificada a necessidade de atendimento psicológico para filhos das vítimas.

O Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CAM) atendeu, somente em 2025, de janeiro a agosto, 263 mulheres, sendo 177 casos novos e 86 casos recorrentes, totalizando 2.450 atendimentos especializados. A Casa Abrigo Canto de Dália contou com 85 pessoas acolhidas no período, sendo 40 mulheres e 45 crianças e adolescentes, gerando 1.086 atendimentos especializados. Para a SMPM, os dados demostram um percentual elevado de necessidade do serviço que será ofertado no âmbito do projeto.

Foto: Calebe Guedes/PML

O projeto “Cuidar para Transformar” está alinhado às diretrizes do Plano Municipal de Políticas para as Mulheres de Londrina 2023-2026, que prevê a implantação de serviços de atendimento e apoio especializado às famílias de mulheres vítimas de violência ou feminicídio, considerando os impactos na saúde e nas relações sociais das vítimas, diretas e indiretas.

O major do 30º Batalhão de Polícia Militar, Alessandro Reis, explicou que as patrulhas do 30º Batalhão, que atendem casos de violência doméstica e familiar, identificaram uma lacuna no atendimento às famílias, já que os filhos das mulheres em situação de violência e vulnerabilidade não recebiam acompanhamento especializado. “Por isso, firmamos este Termo de Cooperação, já que essas crianças e adolescentes também são, ainda que indiretamente, vítimas da violência e precisam de atendimento psicológico”, afirmou.

Foto: Calebe Guedes/PML

A vereadora Flávia Cabral, líder do prefeito Tiago Amaral e procuradora da Mulher no Legislativo, destacou a importância do projeto e afirmou que o dia é de grande satisfação, especialmente por acompanhar de perto, como procuradora especial da mulher do Legislativo e presidente da Comissão da Mulher, a realidade das vítimas de violência doméstica. “Sabemos o quanto é lamentável o que a violência doméstica pode causar e como pode impactar vidas. Projetos como este nos permitem lutar para que as marcas que permanecem na alma dessas crianças, dessas mulheres e dessas famílias possam ser ressignificadas, e para que haja vida, em abundância, mesmo após essa triste realidade”, disse.

Entre os presentes na solenidade, também estiveram a promotora de Justiça, Amarilis Fernandes Cordiali; a juíza da 1ª Vara da Infância, Camila Tereza Gutzlaff Cardoso; a juíza da 2ª Vara da Família, Isabele Papafanurakis Ferreira Noronha, representando o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR); e o vereador Sidnei Matias.

Crédito: Prefeitura de Londrina

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