sexta-feira, setembro 5

Territórios sustentáveis – solução amazônica para conservação dos biomas brasileiros

Amazônia pode dar o pontapé inicial para criação de um programa nacional de territórios sustentáveis

Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorre em novembro, em Belém, a Amazônia, celebrada neste 5 de novembro, contribui com mais um tema no debate sobre a agenda climática global. Cientistas apontam que a região tem potencial para construir um modelo pioneiro de desenvolvimento baseado na perspectiva de territórios sustentáveis e que pode ser aplicado aos diferentes biomas brasileiros. 

Em artigo publicado no The Conversation, os pesquisadores Ima Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, e José Maria Cardoso, da Universidade de Miami, reiteram a proposta pela criação de territórios sustentáveis na Amazônia como estratégia capaz de impulsionar o desenvolvimento socioeconômico e proteger os ecossistemas e os recursos naturais visando as necessidades das atuais e futuras gerações. 

“Territórios sustentáveis buscam o equilíbrio entre dois tipos de infraestrutura: a infraestrutura ecológica, que fornece os serviços ecossistêmicos necessários ao funcionamento das sociedades, e a infraestrutura socioeconômica, composta pelos sistemas criados pelo ser humano para transformar esses serviços ecossistêmicos em bens e serviços que, quando adequadamente distribuídos, geram riqueza e prosperidade”, esclarecem os pesquisadores. 

A ideia, inicialmente apresentada em artigo na revista Trends in Ecology & Evolution, propõe a expansão e descentralização do sistema regional de ciência, tecnologia e inovação; a gestão eficaz das áreas protegidas e Terras Indígenas (TIs); a conversão de terras públicas não destinadas em Unidades de Conservação (UC) e TIs; aumentar as áreas de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs); a recuperação e uso eficiente de áreas degradadas; e a melhoria dos mecanismos de governança territorial como ações prioritárias para a criação de 85 territórios sustentáveis na Amazônia brasileira.

Os cientistas destacam que a proposta tem foco na realidade amazônica, no entanto, um programa nacional de territórios sustentáveis seria bem-vindo, já que permitiria o planejamento e execução de políticas públicas a nível sistêmico e não apenas setorial. O grande desafio para superar isso é fomentar uma cultura baseada no trabalho colaborativo entre os diferentes níveis e setores de governo com ações voltadas para a escala de microrregiões ou mesorregiões. 

Territórios sustentáveis equilibram conservação com desenvolvimento socioeconômico

“O Brasil já possui experiências que podem fundamentar um programa nacional de territórios sustentáveis. A gestão por bacias hidrográficas em vários estados do país e o Macrozoneamento da Amazônia Legal demonstram como superar as limitações das divisões político-administrativas tradicionais, oferecendo modelos de regionalização que consideram conflitos socioambientais reais e possibilitam uma visão sistêmica dos territórios”, apontam Ima Vieira e José Maria Cardoso.  

Para isso, a pesquisa ressalta a importância de ampliar investimentos para expansão do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação e fomentar a articulação do conhecimento científico com os conhecimentos dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Dessa forma, é possível fortalecer a governança e pôr em prática medidas que contribuem para a agenda do desenvolvimento sustentável e do combate às mudanças do clima. 

“Utilizando modernas técnicas de planejamento sistemático da conservação, é possível determinar com clareza e flexibilidade quanto de cada território precisa ser destinado à conservação e à restauração dos ecossistemas essenciais para a prosperidade humana, entendida aqui como a satisfação das necessidades fundamentais. Por outro lado, avanços nos diferentes ramos da engenharia permitem aumentar a eficiência das infraestruturas socioeconômicas para que elas gerem a maior quantidade de bens e serviços ocupando o menor espaço possível”, reforçam Ima Vieira e José Maria Cardoso.

Por Fabrício Queiroz. Edição: Joice Santos

Crédito: Agência Gov

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