
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta segunda-feira, 13 de outubro, em Roma, da abertura do Fórum Mundial da Alimentação 2025, principal evento anual da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A cerimônia, que ocorre dois meses após o anúncio da saída do Brasil do Mapa da Fome, marcou também as comemorações pelos 80 anos da FAO.
Em seu discurso, Lula frisou que a fome continua sendo o maior desafio da humanidade, e que não pode ser desassociada das desigualdades sociais e econômicas. “Não há como dissociar a fome das desigualdades que dividem ricos e pobres, homens e mulheres, nações desenvolvidas e nações em desenvolvimento. Hoje, o mundo produz comida suficiente para alimentar uma vez e meia a população mundial. Ainda assim, 673 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar”, afirmou.
O presidente destacou que, mesmo diante dos avanços tecnológicos e da capacidade global de produção de alimentos, o mundo ainda convive com a injustiça da fome e da exclusão. “Hoje, tanto nossa capacidade de agir coletivamente quanto o otimismo que nos animava estão abalados. Os desafios se aprofundaram, mas não temos alternativa, senão persistir. Enquanto houver fome, a FAO permanecerá indispensável”.
Recebido com muito carinho em nossa chegada à sede da @FAO 🇧🇷💛 pic.twitter.com/aDTkmfDQKW
— Lula (@LulaOficial) October 13, 2025
PLATAFORMA GLOBAL — Criado em 1945, o Fórum Mundial da Alimentação é uma plataforma global para acelerar a transformação dos sistemas agroalimentares, em consonância com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Estruturado em três pilares — Juventude, Ciência e Inovação, e Investimentos —, o Fórum adota os “quatro melhores” (four betters) que orientam a gestão do diretor-geral, Qu Dongyu: melhor produção, melhor nutrição, melhor meio ambiente e melhor vida. A edição de 2025 será marcada por uma série de atividades comemorativas e de reconhecimento de boas práticas em segurança alimentar e agricultura sustentável.
IMPACTOS — Os impactos dos conflitos armados e das barreiras comerciais no agravamento da fome também foram citados pelo presidente. “A fome é a irmã da guerra, seja ela travada com armas e bombas ou com tarifas e subsídios. Conflitos armados desorganizam cadeias de insumos e alimentos. Barreiras e políticas protecionistas de países ricos desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento”, pontuou.
Na visão de Lula, combater a fome requer enfrentar também as causas estruturais da desigualdade e fortalecer o papel das instituições multilaterais. “A FAO é exemplo de um multilateralismo que escuta os países em desenvolvimento, valoriza o conhecimento local e constrói soluções adaptadas a cada realidade. O Brasil tem orgulho de fazer parte da história desta organização”, completou.
COMPROMISSO BRASILEIRO — O papel do Brasil na reconstrução das políticas sociais e na retomada da segurança alimentar como política de Estado é uma das agendas prioritárias do governo brasileiro. “Desde 2023, temos trabalhado incansavelmente para reconstruir políticas sociais. As sementes que plantamos frutificaram. Neste ano, a FAO anunciou que o Brasil saiu novamente do Mapa da Fome. Trinta milhões de pessoas começaram a almoçar, jantar e tomar café”, afirmou.
Segundo Lula, o país alcançou, em 2024, a menor proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar grave da história, interrompendo um ciclo de exclusão e reafirmando a soberania nacional. “Um país soberano é um país capaz de alimentar o seu povo. O combate à fome devia ser uma luta perene. Não se trata de assistencialismo — é preciso colocar os pobres no orçamento e transformar este objetivo em política de Estado”, disse.
Um país soberano é um país capaz de alimentar o seu povo. O combate à fome devia ser uma luta perene. Não se trata de assistencialismo — é preciso colocar os pobres no orçamento e transformar este objetivo em política de Estado”
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República
FINANCIAMENTO — Ao defender a ampliação do financiamento internacional para o desenvolvimento, Lula ressaltou que os governos precisam ter condições concretas de agir. “A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania. É possível superá-la por meio de ação governamental. Mas governos só podem agir se dispuserem de meios. Por isso, ampliar o financiamento ao desenvolvimento, reduzir custos de empréstimos, aperfeiçoar sistemas tributários e aliviar dívidas dos países mais pobres são medidas cruciais”, explicou.
Ele assegurou ainda que a fome é um problema político e que as decisões sobre o destino dos recursos públicos refletem as prioridades de cada Estado. “A fome é, sobretudo, um problema político. É uma questão de opção, de saber para onde vai o dinheiro que o Estado arrecada”.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS — O presidente também relacionou o combate à fome à crise climática, alertando que os impactos ambientais ameaçam a produção de alimentos. Para Lula, não haverá justiça climática sem segurança alimentar e combate à pobreza. “Um planeta mais quente será um planeta com mais fome. A escassez de água, a perda da biodiversidade e as catástrofes naturais afetarão a produtividade agrícola e o preço dos alimentos. A mudança do clima exigirá de nós uma revolução mais verde e mais inclusiva”, informou.
COP30 — O presidente destacou que a COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro, terá papel central na integração entre as agendas climática e alimentar, e anunciou que o Brasil lançará, durante a conferência, o Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF), que vai remunerar tanto quem investe quanto quem cuida para manter as florestas em pé.
“Entrelaçar essas duas lutas será a missão da COP30 em Belém. As contribuições nacionalmente determinadas podem se tornar veículos para a promoção da segurança alimentar e nutricional. Isso é possível fomentando a agropecuária de baixo impacto ambiental, apoiando a agricultura familiar, produzindo bioenergia e compensando quem preserva a natureza”, declarou.
Crédito: Agência Gov
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