sexta-feira, outubro 3

Brasil coloca o oceano no centro da ciência e inovação

De projetos científicos no Proantar ao reconhecimento da Unesco, iniciativas do MCTI ganham destaque na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2025 e projetam o País para o cenário internacional

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) coloca cada vez mais o oceano como um dos seus tópicos prioritários. A pasta segue uma tendência mundial de valorização e relevância do tema, que deixou de ter um papel secundário e está presente em pautas de ações e eventos importantes como da 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) — Planeta Água: Cultura Oceânica para Enfrentar as Mudanças Climáticas no Meu Território. A mostra ocorrerá de 21 a 26 de outubro, em todo o País.   

A SNCT 2025 é o maior evento de popularização da ciência do Brasil, com ações presenciais e virtuais. Para a edição deste ano, é esperado um público de pelo menos 100 mil pessoas, que terá acesso a mais de 70 eventos, com 67 instituições e 65 municípios envolvidos, até o momento. 

No MCTI, o universo azul é tratado na Secretaria de Políticas e Programas Estratégicos (Seppe), no Departamento de Programas Temáticos (Depte), por meio da Coordenação-Geral de Ciências para Oceano e Antártica (CGOA).   

Para o diretor do Depte, Leandro Pedron, o tema da SNCT é fundamental para conscientizar as pessoas sobre crise climática. “Para o Brasil, esse conceito se torna estratégico no enfrentamento das mudanças climáticas porque transforma ciência em cultura ativa: não basta saber que o oceano absorve calor ou carbono, é fundamental que a sociedade compreenda esse papel, valorize práticas que protejam essa função, inclusive por meio de políticas públicas e comportamentos cotidianos”, dispara.  

No Brasil, cerca de 1,3 milhão de toneladas de lixo plástico é descartado no oceano todo ano, segundo o relatório Fragmentos da Destruição: Impacto do Plástico à Biodiversidade Marinha, divulgado em 2024. Isso coloca o País no oitavo lugar entre os principais poluidores do mundo. Esse número pode e deve melhorar com políticas públicas embasadas em dados científicos.  

O tema oceano vem sendo valorizado também fora do contexto nacional, em 2017, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021–2030), coordenada pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Em contexto global, O World Wildlife Fund (WWF) afirma que, todos os anos, cerca de 9 milhões a 14 milhões de toneladas de poluição plástica vão parar nos oceanos de todo o globo. Desse total, ainda conforme o fundo, mais de 90% vêm de plásticos de uso único e microplásticos, como canudos e copos descartáveis.  

Esses números transforam o ecossistema que cobre cerca de 71% da superfície da Terra e concentra aproximadamente 97% de toda a água do planeta, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, em um depósito de lixo.  

Além da importância ambiental para o planeta, o oceano move a chamada Economia Azul, que inclui empregos e alimentos fornecidos pela água salgada, com um faturamento global anual de US$ 3 trilhões a US$ 6 trilhões considerando emprego, serviços ecossistêmicos, turismo costeiro, transporte marítimo e energia marinha, segundo informações do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (Desa).

A imensidão azul é responsável ainda por manter a alimentação de 600 milhões de pessoas, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).   

Para Pedron, se não internalizarmos a cultura oceânica como parte do modo de vida, continuaremos reagindo aos problemas em vez de antecipá-los. “Com o oceano febril desde 2023, com temperaturas médias e conteúdo de calor oceânico persistentes em níveis recordes, estamos vendo efeitos intensificados, com eventos extremos, perda de biodiversidade e impacto sobre comunidades costeiras. Em resumo: cultura oceânica é ferramenta de prevenção, adaptação e mitigação. Sem azul, não há verde.”  

Protagonismo  

O País vem intensificando os debates e centralizando o oceano como prioritário na luta contra a poluição. Em abril de 2025, a Unesco reconheceu o Brasil como o primeiro país do mundo a se comprometer oficialmente com a inclusão da Cultura Oceânica no currículo escolar nacional, por meio do projeto Currículo Azul.

“Esse é um marco para aproximar ciência e educação, transformando conhecimento em cidadania. O Currículo Azul garante que desde a infância se compreenda a relevância do oceano para a vida, para o clima e para a economia”, afirma Pedron. 

Reforçando a importância na SNCT em 2025, o Rio de Janeiro (RJ) receberá, em 2027, a Conferência da Década. A COI anunciou a sede do evento em 27 de junho de 2025 com uma proposta que coordenou parceiros locais e internacionais. A escolha confirma a liderança do Brasil e impulsiona o debate e as entregas em cultura oceânica, ciência aplicada e inclusão social.  

Ainda conforme Pedron, o MCTI é um meio para que a inclusão da Cultura Oceânica se concretize. “Por sua natureza, o MCTI garante que os conteúdos a serem levados às salas de aula sejam baseados em evidências científicas, conectados aos programas de pesquisa e monitoramento e alinhados com as metas internacionais da década”. 

Microplásticos na Antártica  

A Seppe também é responsável por impulsionar colaborações internacionais de fronteira no esforço contra a poluição. Por meio do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), equipes técnicas integraram e participaram de missões durante uma investigação conjunta lançada em 2024, promovida entre a Agência Internacional de Energia Atômica da Organização das Nações Unidas (AIEA) e o Instituto Antártico Argentino (IAA).   

A ação faz parte do projeto Nutec Plastics e investiga a quantidade de microplásticos na Antártica com o uso da ciência nuclear. As águas, os sedimentos e as fezes dos pinguins da região foram recolhidos para análise.   

A ciência desenvolvida no Proantar é a principal iniciativa que assegura a presença científica do Brasil no continente gelado, considerado estratégico para compreender os impactos globais das mudanças climáticas e suas influências diretas sobre o território nacional.   

Criado no fim dos anos 1970 e ativo desde 1982, o programa foi fundamental para que o País se tornasse membro pleno do Tratado da Antártica, que exige dos signatários a manutenção de pesquisas consistentes para participar das decisões sobre a preservação e o futuro da região e do oceano Austral. Sob responsabilidade conjunta de ministérios e órgãos como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Marinha, o Proantar viabiliza estudos sobre a criosfera, os oceanos, a atmosfera e a biosfera.  

Inovação em torno do oceano  

Na SNCT 2025, todas essas frentes se encontram para mostrar como o Brasil conecta educação, ciência e inovação em torno do oceano. De iniciativas educativas como o Currículo Azul a projetos tecnológicos que combatem a poluição por plástico.   

Ainda conforme o diretor, o tema representa uma oportunidade de transformar ciência em soluções tangíveis. “De novos materiais que reduzem a poluição plástica a sistemas de monitoramento que protegem nossas ilhas oceânicas e costeiras. A implementação dessa agenda no Brasil coloca o País na vanguarda de uma ciência voltada ao bem-estar coletivo.”    

Junto a todo o protagonismo brasileiro, a preservação do oceano ainda impacta em diversas áreas corriqueiras de todos os seres humanos. Para Pedron, a vida azul é essencial à vida humana. “O oceano influencia diretamente a produção de alimentos, a geração de energia, o transporte marítimo e até a chuva que irriga as lavouras.”    

Enquanto isso, a MCTI investe em biotecnologia marinha, segurança alimentar e monitoramento, consolidando um portfólio que une economia azul e resiliência climática. E, para aproximar a ciência da sociedade, o Programa Cultura Oceânica reforça a importância de “oceanizar” o debate climático, fio condutor que traduz a proposta brasileira: medir, entender e comunicar o oceano como estratégia para proteger pessoas, orientar políticas públicas e impulsionar inovação.   

Crédito: Agência Gov

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