
Diretora do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Luiza Trabuco afirma que COP 30 deve ter compromisso global para enfrentar crise climática junto com o de combate à fome e cita exemplos do esforço do Brasil em construir um marco de referência sobre alimentação e clima
Combater a fome no mundo deve estar dentro dos compromissos globais para enfrentar a crise climática durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em novembro, em Belém (PA). Foi o que afirmou a diretora do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Luiza Trabuco.
Não dá para pensar o combate à fome sem pensar em enfrentar a crise climática, da mesma forma que a gente compreende que é fundamental colocar no centro da discussão climática como garantir comida na mesa para as pessoas”, disse Luiza
Durante o programa Estúdio COP 30, transmitido pelo Canal Gov, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a diretora explicou que a forma de produção, distribuição e consumo dos alimentos está associada com o cenário de mudanças climáticas.
A mudança climática é um dos fatores da existência da fome no mundo, por conta do impacto na produção de alimentos, e também nos eventos climáticos que têm fragilizado de forma mais importante as populações mais vulneráveis”.
“Quando a gente está falando de populações que vivem em lugares com infraestrutura mais precária, que não têm acesso a um conjunto de instrumentos de proteção social, então essas pessoas são mais afetadas quando acontece um evento extremo climático em que o acesso à água e o acesso aos alimentos fica comprometido, como a gente tem visto aí em situações de enchente, seca, calamidades e emergências”, explicou a diretora.
“Nós estamos vendo no Brasil e no mundo cada vez mais secas prolongadas, secas inclusive em regiões que antes não sofriam com essa questão. A gente tem visto um aumento da frequência e da intensidade de eventos climáticos que tem provocado perdas de safras. A gente tem enchentes que provocam perdas de lavouras inteiras e isso impacta na disponibilidade de alimentos, pressiona a demanda e tem aumentado inclusive o preço em algumas ocasiões. Isso afeta diretamente sobretudo aquelas pessoas que têm menos renda, porque pressiona o seu orçamento na compra de alimentos”.
Em relação à produção, Luiza Trabuco citou as chamadas longas cadeias, que demandam distâncias grandes e recursos para o transporte e armazenamento dos alimentos até chegar à população, sem falar no desperdício.
“Quando a gente está falando desse alongamento das cadeias, dessas distâncias, isso exige uma forma de produção e um tipo de alimento que precisa ser menos perecível, que acaba sendo aditivado um conjunto de produtos químicos para alongar o seu tempo de vida, processos de transporte que são demandados, embalagens. Essa cadeia longa gera muitas perdas e desperdícios de alimentos no transporte e incentiva um tipo de alimento que muitas vezes não é saudável, que são os alimentos ultraprocessados. A indústria passou nas últimas décadas a investir muito em tecnologias, em formas de produzir alimentos que tenham essa vida mais longa para sustentar e suportar esse modelo de cadeia longa de abastecimento, que inclusive não são alimentos saudáveis e não conseguem gerar a nutrição que o nosso corpo precisa. Pelo contrário, provocam muitas doenças, como as doenças crônicas não transmissíveis, hipertensão, obesidade”.
“Hoje no Brasil está estimado em torno de 30% do que é produzido é perdido ou desperdiçado ao longo da cadeia de abastecimento, seja lá na colheita, transporte, como também no consumo diário nas nossas casas. Então é preciso medidas relacionadas a essa forma de se produzir hoje, reduzindo as distâncias também entre produção e consumo, apostando mais nas economias circulares para que a gente possa ter também o aproveitamento máximo dos recursos”, afirmou.
Referência
A diretora afirmou que o Governo do Brasil vem atuando para construir um marco de referência sobre alimentação e clima.
“O Brasil tem mostrado ao mundo que é possível combater a fome e estar atento às mudanças climáticas. O Brasil saiu do Mapa da Fome e também tem reduzido sistematicamente, por exemplo, o desmatamento da Amazônia. A gente tem esse conjunto de políticas que são referência no mundo exatamente porque fizeram um grande feito histórico, que foi tirar o Brasil do Mapa da Fome em um tempo recorde. Em apenas dois anos o Brasil teve uma redução muito significativa de pessoas com fome. A gente tirou mais de 26,5 milhões de pessoas da fome e é com essa autoridade moral que o presidente Lula mobiliza e convoca todo mundo nessa ação global de juntar esforços de quem financia políticas com quem tem experiência e tem instrumentos comprovados para combater a fome, também com essa preocupação em relação às mudanças climáticas”, disse.
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Plano Clima
Como exemplo, Luiza Trabuco citou que o Governo do Brasil está finalizando a elaboração do Plano Clima, que vai guiar as ações de enfrentamento às mudanças climáticas no país.
“Para preparar para que os sistemas alimentares sejam mais resilientes e adaptados a esse novo regime climático. A gente precisa adaptar a forma que a gente produz e também reorganizar essa cadeia de abastecimento, para que a gente tenha menos impacto sob efeito desses eventos climáticos que têm sido cada vez mais frequentes”, afirmou.
Aliança Global
Para a diretora, uma das soluções é o investimento em alimentação baseada na produção local, com incentivo à agricultura familiar e agroecologia, citando ações do Governo do Brasil, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o Programa Cisternas, que são referência para a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, lançada em 2024 durante a presidência brasileira do G20.
“A gente tem um conjunto de políticas públicas no Brasil que compõe a cesta de políticas da Aliança Global contra a Fome, que é referência para que outros países implementem nos seus territórios políticas e ações que vão no sentido de garantir esses circuitos curtos de abastecimento em que aproxima a produção e consumo, onde a alimentação é baseada na produção local, a partir da agricultura familiar e dos povos e comunidades tradicionais, povos indígenas, como é o caso do Programa de Aquisição de Alimentos, que compra os alimentos produzidos pelos agricultores familiares, pelos agricultores locais e povos e comunidades tradicionais, povos indígenas, para abastecer a rede socioassistencial”.
“Assim como também as tecnologias sociais adaptadas ao clima, como é o caso das cisternas no semiárido brasileiro, que é uma tecnologia social de captação de água da chuva, de armazenamento para garantir água para consumo e produção de alimentos. A gente tem também o Bolsa Verde, que é um programa que garante a conservação de unidades ambientais por pessoas que moram nesses territórios: pescadores, extrativistas, quilombolas, indígenas”, afirmou.
Assista à integra do programa Estúdio COP 30
O programa Estúdio COP 30, do Canal Gov, é exibido na TV aberta (canal digital 2.2 em SP e 1.2 demais estados) às segundas e quartas-feiras, às 13h. Traz entrevistas dedicadas a discutir grandes temas e bastidores da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, em Belém (PA)
Crédito: Agência Gov
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