sexta-feira, setembro 26

Intérprete de libras acompanha pessoa surda em cirurgia

A SMS vem investindo em cursos de Libras para preparar os profissionais para melhor atender pessoas surdas – Camila Cabral/SMS

Roosevelt Silva é uma pessoa surda e sempre teve dificuldade em alguns serviços, por não encontrar atendentes que soubessem Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Na última sexta-feira (12/9), a história foi diferente: Roosevelt fez uma cirurgia oftalmológica no Centro Carioca do Olho (CCO) e teve a seu lado um intérprete de Libras da unidade, explicando tudo o que iria acontecer no procedimento. Na área da saúde, a ausência de comunicação adequada muitas vezes compromete o entendimento sobre diagnósticos, tratamentos e orientações médicas.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vem investindo em cursos de Libras para preparar os profissionais para melhor atender pessoas surdas, como Roosevelt. Mais de 600 profissionais da rede municipal já foram capacitados ou estão em formação para atender na Língua Brasileira de Sinais. Somente no Super Centro Carioca de Saúde, em Benfica, do qual o CCO faz parte, mais de 80 profissionais estão sendo treinados. A iniciativa busca garantir um atendimento mais acessível, humanizado e inclusivo nas unidades do SUS.

No seu primeiro contato com o CCO, Roosevelt enfrentou dificuldades de comunicação logo que chegou. Mas logo um dos profissionais treinados percebeu a situação, se aproximou e começou a se comunicar diretamente com ele em Libras. Hoje, Roosevelt se sente à vontade e consegue frequentar a unidade sozinho, com a segurança de que será compreendido. Ele já recebeu todas as informações sobre a cirurgia de vitrectomia posterior com infusão de perfluocaebono/óleo de silicone/endolaser que foi realizada na última sexta-feira e teve ao seu lado um profissional da unidade que o acompanhou no procedimento, como intérprete, passando as últimas orientações do cirurgião.

Os cursos de Libras são oferecidos diretamente nas unidades de saúde como parte de um projeto piloto e formam profissionais em nível básico, com foco na comunicação em saúde. O objetivo é que o paciente surdo possa ser atendido com autonomia e dignidade, sem depender de intérpretes externos ou familiares para se comunicar.

A capacitação já está presente em mais de 100 unidades de saúde, incluindo o Super Centro Carioca de Saúde, em Benfica. Segundo a professora de Libras Rebecca Virmond, a iniciativa teve grande adesão:

– Os profissionais ficaram empolgados com a iniciativa, chegaram na aula animados, empolgados e querendo aprender tudo. Quando chega uma pessoa surda aqui na unidade, todos querem ajudar da melhor forma possível.

– A Atenção Primária também é um espaço de cidadania. Hoje, o paciente pode ir a uma consulta sozinho, sem precisar de ferramentas ou familiares para se comunicar — será atendido de forma digna – disse Thiago Wendel, coordenador da área programática 5.2 e idealizador da ação em diversas regiões.

Para a Coordenadora de Gestão Administrativa do Super Centro Carioca de Saúde, Cida Vidon, o compromisso da rede é com cada indivíduo:

– Não precisamos de um número considerável de pessoas precisando do atendimento em Libras; basta que um precise, e nós vamos buscar atender – declarou a mestre em Diversidade e Inclusão pela UFF.

Além de ser uma ação de acessibilidade, a capacitação de profissionais em Libras nos serviços de saúde reforça os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS): Universalização, ao garantir que todos tenham acesso; Equidade, ao tratar desigualmente os desiguais; e Integralidade, ao considerar todas as dimensões do cuidado.

Ao retornar para uma consulta de revisão, o paciente já apresenta melhora na visão, o que facilita sua comunicação em libras. Roosevelt afirma que foi ótimo ter um intérprete ao seu lado pois, anteriormente, nunca havia tido esse apoio nos hospitais pelos quais passou. Agradece aos profissionais do Super Centro Carioca de Saúde, pelas instruções passadas em libras, e diz ter gostado do atendimento. A analista administrativo Vera Reis afirma:

– Mais que se comunicar em uma nova língua, a gente tem a preocupação de fazer valer os preceitos constitucionais, que é acolher os pacientes surdos – disse ela, destacando a importância da acessibilidade nas unidades de saúde.

Manter ou recuperar a visão é ainda mais crucial para pessoas surdas, que usam a comunicação visual como principal forma de expressão. Nesse contexto, a cirurgia de Roosevelt é não apenas um procedimento médico, mas também um reforço ao seu direito à comunicação e à dignidade.

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  • 26 de setembro de 2025
  • Crédito: Prefeitura do Rio de Janeiro

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