
O trabalho e os investimentos em jornalismo comunitário e local, incluindo veículos digitais e rádios, tornam-se fundamentais para avançar contra os “desertos de notícias” no Brasil. Essa é a avaliação de entidades do campo da comunicação, após a divulgação do Atlas da Notícia, que mostra haver 26,7 milhões de pessoas que vivem em 2.712 cidades sem qualquer veículo de comunicação local. ![]()
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Os dados do levantamento, entretanto, indicam ainda ter havido uma redução de 8,6% no número de cidades nessa situação, quando comparado ao ano passado. A pesquisa aponta que veículos digitais e rádios comunitárias são responsáveis por essa diminuição dos “desertos”.
“A liderança do segmento online no universo do jornalismo local brasileiro é um caminho natural, que já vinha sendo observado pelas outras edições do Atlas e que se relaciona à crise do jornalismo impresso e à facilidade tecnológica para o lançamento de novas iniciativas digitais”, afirma Maia Fortes, diretora executiva da Associação de Jornalismo Digital (Ajor).
Ela explica que o crescimento é essencial para o fortalecimento da democracia e aumento da pluralidade do sistema informativo.
Maia Fortes chama a atenção, porém, para o alto número de iniciativas mapeadas pelo Atlas que fecharam suas atividades, o que mostra a fragilidade de iniciativas digitais. Segundo ela, a entidade participa de discussões e tem construído propostas para a criação de políticas públicas de fomento ao jornalismo que ajudem na sustentabilidade financeira desses veículos.
Para ela, um ponto que pode ajudar no financiamento do jornalismo é a remuneração de conteúdos pelas big techs, pauta que está em debate em Brasília. A diretora alerta, entretanto, que a atual da proposta precisa de mudanças para garantir um ecossistema de mídia mais plural, uma vez que ele não incentiva o jornalismo local, regional e as pequenas e médias iniciativas.
Lacunas
Outro tipo de veículo que leva as “sementes” para reduzir os desertos de notícias são as rádios comunitárias. Para a jornalista Taís Ladeira, da Associação Mundial de Rádios Comunitárias no Brasil (Amarc), os veículos preenchem a ausência de comunicação comunitária e popular.
“A rádio comunitária também tem o papel de regionalização da produção, de falar sobre os problemas da sua comunidade para a própria comunidade”.
Ela defende mais investimentos para esse tipo de rádio a fim de que os projetos que nascem com intenção de prestar serviço à sociedade tenham sustentabilidade. Além de mais incentivos e investimentos, a jornalista entende que é fundamental proporcionar parcerias não onerosas com universidades, por exemplo, para capacitar quem trabalha no veículo.
O presidente da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço), Jeremias dos Santos, lembra que não há integração total do país e o rádio ainda faz o papel fundamental de proporcionar comunicação cidadã. “Hoje, quase 2 mil municípios ainda não têm uma emissora comunitária. Então, depende de o Estado brasileiro acelerar esse processo”. Para ele, são necessárias emissoras de rádios em comunidades indígenas e quilombolas para levar serviços e reduzir a desinformação.
A experiência do servidor público Alan Camargo, que faz parte de uma associação comunitária no município de Sapiranga (RS), mantenedora da Rádio Ferrabraz, é a de defender a digitalização dessas rádios. Ele integra o movimento nacional de rádios comunitárias e atua com a capacitação de comunicadores, equipe técnica e movimentos sociais no sentido de fortalecer a radiodifusão comunitária.
“O país vive em um novo momento. Precisamos digitalizar o rádio para dar espaço a todos”. Camargo afirma que a digitalização do rádio no Brasil é a possibilidade de o país amadurecer nessa tecnologia e “ampliar a comunicação social sem depender única e exclusivamente das big tecs”.
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Coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Admirson Ferro Jr entende que o Estado deve facilitar e impulsionar a produção local de informações, mas as dificuldades passam pela falta de sustentabilidade dos negócios.
“É necessário habilitar a mídia alternativa no Brasil para ter direito a recursos de propaganda e de incentivos. Para isso, precisam estar no cadastro”. O dirigente avalia que esse cadastramento poderia ser mais facilitado, de forma mais prática e rápida, o que não acontece ainda.
O representante da FNDC exemplifica que as comunidades no Norte precisam estar cientes sobre degradação do meio ambiente. Essa divulgação, acredita, é de apoio às comunidades e deveria ser feita com qualidade pela comunicação local e pública.
Crédito arquivo Nacional EBC
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